sábado, 31 de maio de 2014

Postagens Aleatórias #87

Ela veio correndo para mim e pulou no meu colo chorando. Quando seus braços rodearam minha cintura e seu choro ficou desesperado, eu sabia que as coisas estavam piores do que eu pensava. Passei meus braços em volta dela protetoramente e comecei a conduzi-la por meu apartamento, a até que chegássemos ao meu quarto. Ela chorava ininterruptamente e eu sentia sua lágrimas em minha pele. Seu choro dolorido machucava meu coração, mas eu precisava que ela estivesse segura primeiro. Sentei-a entra as minhas pernas no meu colchão e deixei que chorasse bastante. Eu cantava a lullaby que eu criara para ela tentando acalmá-la, para ver se adiantava. Quando ela pareceu menos desesperada é que comecei a perguntar:
- O que foi minha criança? O que aconteceu?
Seu rosto, escondido em meu ombro, se mexeu e eu senti uma mordida no local. Ela afundou um pouco os dentes e eu sabia que a pele ia ficar marcada por algum tempo, mas não reclamei. Quando ela parou o aperto na pele, eu sabia que ela conseguiria falar sem cair em pranto desesperado de novo.
- Ele não me ama.
Aquela frase me fez suspirar. Eu já sabia disso. Eu sempre soubera. Só que eu não podia simplesmente falar para ela largá-lo. Ela o amava. De que adiantaria eu ser cruel aquele ponto? Eu beijei-lhe a testa carinhosamente e passei a ponta dos meus dedos por seu rosto, acarinhando o rosto lindo da minha criança.
- Eu entreguei meu coração a ele - Ela falou com a voz quebrada e meu coração se apertou por causa dela - E ele disse que me ama desse jeito: da mesma forma que ama ao irmão.
O pranto dela voltou, e eu senti ela cheirar meu pescoço, enquanto mordia a região. Eu imaginava que a dor que ela estivesse sentindo fosse tão forte a ponto dela precisar extravasar de alguma forma. Por isso ela me mordia. Para que a dor diminuísse um pouco. Acarinhei seu cabelo longo e suspirei, tentando ignorar a dor em meu pescoço. Fiquei olhando para um ponto qualquer do meu quarto enquanto deixava ela deixar seus problemas em meu colo. Eu sabia que isso era só o começo. Ela precisava e muito de mim. Olhei para meus cadernos espalhados em minha escrivaninha. Isso poderia esperar.
Continuei a cantar para ela enquanto mexia distraída em seus cabelos. Ela volta e meia mordia mais forte meu pescoço, e logo depois aliviava. Ficou nesse aperta-e-segura até que eu não senti mais seus dentes em minha pele. Sua respiração havia acalmado. Ela dormia.
Com cuidado, retirei-a do meu colo e deixei ela melhor acomodada em meu colchão, cobrindo-a para que não sentisse frio. Fui até a janela do meu quarto e olhei para o por do sol. Ela havia chegado aqui próximo ao meio-dia. E só agora parecia mais calma. A noite seria longa.
Fechei as cortinas e dei uma olhada nela uma última vez antes de sair do quarto. Andei pelo corredor até chegar a sala. Na mesa, meu celular tinha o led piscando. Alguém estava atrás de mim. Sem olhar quem era, apenas retornei a ligação.
- Ela está com você Lizzy? - Quando reconheci a voz, quase engasguei. Era ele. O cara que jogara minha menina para escanteio.
- Onde mais ela estaria, James? - Perguntei olhando pela janela da sala.
- Ela saiu daqui sem dizer nada, nem tchau me deu. E ninguém sabe dela. Você era minha última esperança. - Eu caminho até minha bolsa e pego um cigarro de meu maço, indo até janela em seguida junto com isqueiro na mão.
- Ela sempre corre pra mim quando algo dá errado. Por que você ainda parece surpreso? - Pergunto, fazendo algum malabarismo e conseguindo acender meu cigarro. Dou uma longa tragada, sentido a fraqueza da primeira revitalizando meu corpo e tirando-me a tensão. As vezes, eu acho que só fumo por causa da primeira tragada. Óbvio que sei que não é por isso, mas gosto de me iludir um pouco. Deixo uma baforada pairar para fora do meu apartamento e paro de divagar com a voz no telefone.
- Ela está tão mal assim? - Ele me pergunta receoso e eu suspiro, dando outra tragada.
- Ela está comigo não está?
- Não foi minha intenção, Liz. Eu só...
- Achou que ela ia aceitar numa boa? - Interrompi ele olhando para o nada - Lily te idolatra. Desde que pôs os olhos em você. E parecia uma criança em manhã de Natal ao falar de você. E com certeza era uma criança em manhã de Natal ao estar com você. Ela vai ser forte e aceitar o que você disponibilizar a ela numa boa. Mas isso é só por fora. Seria melhor se você tivesse só dito que não queria mais nada com ela. Agora dizer para serem amigos? Isso, meu caro, foi um golpe baixo. Muito baixo.
- Há vários caras por aí. Ela com certeza vai me esquecer.
- Não, não há vários caras por aí. Lily estava acabada, ela nunca mais vai ter um relacionamento por causa de você sabe quem. E então você chega como uma manhã ensolarada após uma semana chuvosa e acha que pode simplesmente depois de alguns dias mostrar dias apenas amenos? Nada vai ser a mesma coisa pra ela.
- Mas achei que isso vai ser a melhor forma de tê-la por perto sem magoá-la.
- Entenda de uma vez por todas James: Você vai perdê-la. E eu não vou interferir nisso. Ela vai sim te esquecer. Só que do jeito mais doloroso pra você. Ela vai se afastar muito devagar. E você nem vai ver. Só que quando você quiser o colo dela, ela vai estar longe demais do seu alcance para te ajudar. E então você vai descobrir que não deveria ter feito o que está fazendo.
- E então eu não vou tê-la nunca mais, é isso?
- Já aconteceu antes. Todos se arrependem. Mas é um caminho que não tem volta. - Dou a última tragada em meu cigarro, antes de jogá-lo no cinzeiro mais próximo. Eu havia terminado com ele tão rápido que não sentira. Preocupante, no mínimo.
- Eu preciso pensar.
- Não demore Jay. Pode ser que quando você se decidir, seja tarde demais.
James não respondeu mais e eu sabia que ele havia desligado. Jogo meu celular no sofá e fecho a janela. Volto para o quarto e Lily se move, abrindo os olhos lentamente. Eles estão vermelhos por conta do choro. Sento junto a ela e a puxo para mim, acariciando seus cabelo. Ela cheira meu pescoço e faz um barulho engraçado.
- Você estava fumando Lizzy.
- Sim.
- Isso é nojento.
- Shiu criança.
Ela dá uma risada baixa e levanta o rosto para o meu. Beija meus lábios carinhosamente e se aconchega novamente em mim.
- Obrigada Liz. Obrigada por estar aqui.
Eu apenas a aperto no abraço, sem dizer nada. James não sabe a sorte que tem por ter essa criança irritante ao lado. Provável que nunca vá saber. Mas quem sabe eu não tenha posto juízo na cabeça dele, não?

Nenhum comentário: